terça-feira, 12 de julho de 2011

Léo Schlafman - 11 de julho de 2011







James Joyce - Estética da vanguarda ficcional: introdução a Ulisses por Léo Schlafman - 11 de julho de 2011

Ulisses (fragmento)

James Joyce


Tradução de Antônio Houaiss

Capítulo: Penélope (extratos)


SIM porque ele nunca fez uma coisa como essa antes como pedir pra ter seu desjejum na cama com um par de ovos desde o hotel City Arms quando ele costumava fingir que estava de cama com voz doente fazendo fita para se fazer interessante para aquela velha bisca da senhora Riordan que ele pensava que tinha ela no bolso e que nunca deixou pra nós nem um vintém tudo pra missas para ela e para alma dela grande miserável que era com medo até de soltar 4x. para seu espírito metilado me contando todos os achaques dela com aquela velha de falação dela sobre política e tremores de terra e o fim do mundo que a gente tenha um pouco de distração pelo menos antes Deus ajude o mundo se todas as mulheres fossem como ela contra roupa de banho e decotes é claro que ninguém queria ver ela com isso eu creio que ela era piedosa porque nenhum homem havia de olhar para ela duas vezes eu espero que não vou ser nunca como ela não admirava se ela quisesse que a gente escondesse a cara mas ela era uma mulher bem educada
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seu beijo de sempre no meu traseiro era para esconder a coisa não é que eu me incomode uma palha com quem ele faz ou conheceu antes mas eu gostava de saber até chegar a ter os dois debaixo do meu nariz como naquela vez que aquela desmazelada daquela Mary que a gente tinha no terraço Ontário enchumaçando o falso traseiro dela para excitar ele como se não bastasse eu sentir o cheiro dessas mulheres borradas de pintura nele uma ou duas vezes eu desconfiei fazendo ele chegar pra perto de mim quando eu achei aquele cabelo comprido no paletó dele sem contar a vez que eu fui pra cozinha e ele fingiu que estava bebendo água 1 mulher não é bastante para eles toda a culpa era dele é claro estragando as criadas propondo que ela podia comer na nossa mesa no Natal
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ele não podia talvez passar sem aquilo muito tempo assim ele deve fazer em algum lugar e na última vez que ele foi no meu traseiro quando é que foi na noite que Boylan deu aquele apertão na minha mão indo pela Tolka na minha mão dá um outro eu só fiz nas costas da dele assim com o meu polegar para dar o troco cantando a jovem lua de maio está irradiando amor pois ele tem uma implicância com ele e eu ele não é tão bobo assim ele disse vou jantar fora e vou ao Gaiety mas eu não vou dar a ele essa satisfação de modo nenhum Deus sabe em troca que não vou sempre e sempre usar o mesmo chapéu velho a não ser que eu pague algum rapaz bonitão para fazer isso pois eu não posso fazer por mim mesma um rapaz jovem havia de gostar de mim eu ia encabular ele um pouco só se agente ficasse eu deixava ele ver as minhas ligas as novas e fazer ele ficar vermelho seduzia ele eu sei o que os rapazes sentem com isso pela cara deles fazendo aquela esfregação insofrida na coisa a cada hora pergunta e resposta você fazia isso e aquilo e mais aquilo com o cocheiro sim com o bispo sim eu havia de fazer porque eu contei a ele a respeito daquele Deão ou Bispo que estava sentado ao meu lado nos jardins dos templos judeus quando eu estava tricotando aquele troço de lã
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nunca em minha vida senti nenhum que tivesse o tamanho daquilo de fazer você se sentir toda cheia e recheia ele devia ter comido um carneiro inteiro pois que ideia de fazer a gente assim com um buraco grande no meio da gente como um Garanhão montando adentro de você pois isso é tudo que eles querem de você com aquele olhar vicioso decidido no olho dele que eu tinha de quase fechar os meus olhos ainda que ele não tivesse tão tremenda quantidade de espermo  nele quando eu fiz ele puxar fora e fazer por cima de mim considerando o grande que era é tanto melhor no caso de que mesmo um pouquinho não ficasse bem lavado a última vez que eu deixei ele acabar dento de mim bela invenção que se fez para as mulheres para eles é todo prazer mas se alguém desse a eles um pouco do deles mesmos eles iam saber o que eu passei
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ela Josie costumava estar sempre me beijando quando ele estava lá fazendo de contas que era para ele é claro e me provocando e quando eu disse que me lavava de cabo a rabo tão fundo como possível ela me perguntou você lava o possível as mulheres estão sempre puxando para isso e fazendo carga nisso quando ele está elas sabem pelo olho sonso dele piscando um pouquinho fazendo de indiferente quando elas saem com alguma coisa desse tipo é isso que estraga ele o que não me espanta o mais mínimo pois ele era tão alinhado naquele tempo tentando parecer como lord Bryron que eu dizia que gostava embora ele fosse bonitinho demais para um homem
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toquei as calças dele de fora do jeito que depois eu costumava com o Gardner com minha mão esquerda para impedir que ele fizesse o pior onde era tão público eu morria pra saber se ele era circuncidado ele tremia todo ele como varas verdes eles querem fazer tudo tão depressa que tira todo o prazer e meu pai que esperava todo tempo pelo jantar ele me disse pra contar que eu tinha deixado minha bolsa no açougueiro e que tinha tido de voltar pra apanhar ela que Mentiroso depois ele me escreveu aquela carta com todas aquelas palavras como é que ele podia ter a cara para qualquer mulher com aqueles seus modos de acompanhar o que fez tão difícil depois quando a gente se encontrou perguntando eu ofendi você eu com minhas pestanas baixadas é claro ele viu que não tinha ele tinha um pouco de miolo não como aquele outro idiota do Henny Doyle
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esse tratante que andou tomando liberdades comigo depois do jantar do Glencree naquela longa volta pela montanha do leito de pluma e o lorde Prefeito que me olhava com aqueles olhos sujos dele Val Dillon aquele salafrário grandalhão que eu notei pela primeira vez na sobremesa quando eu estava quebrando as nozes com meus dentes
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na noite da tempestade eu dormi na cama dela ela passou os braços dela em volta de mim depois a gente fez de manhã uma guerra de travesseiros
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Gardner dizia que nenhum homem podia olhar pra minha boca e meus dentes sorrindo assim sem pensar naquilo eu tinha medo no começo que ele não gostasse do meu sotaque ele tão inglês tudo o que meu pai me deixou apesar dos selos eu tenho olhos e o porte de minha mãe de todos os modos ele dizia sempre eles são tão repelentes alguns desses grosseirões ele não era nem um pouquinho assim ele era morto pelos meus lábios que elas arranjem primeiro um marido que seja digno de ser olhado e uma filha como a minha ou que vejam se podem excitar um pancadão endinheirado que pode pegar e escolher a que ele quiser como Boylan pra dar 4 ou 5 vezes amarrados um nos braços do outro ou mesmo a voz eu podia ter sido uma prima donna se não
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penso que vou cortar todos esses pêlos aí que me escaldam eu podia ficar parecendo uma garota novinha será que ele não ia ficar de boca aberta na primeira vez quando levantasse minha roupa eu dava tudo pra ver a cara dele onde é que foi parar o vaso eu tenho um santo horror que ele se quebre debaixo de mim depois daquele velho criado-mudo eu queria saber se eu estava muito pesada sentada no colo dele eu fiz ele se sentar na espreguiçadeira de propósito quando eu tirei só minha blusa e saia primeiro no outro quarto ele estava tão ocupado onde não devia estar que nem me sentiu eu espero que meu hálito estava doce com aquelas pastilhas beija-flor devagar meu Deus eu me lembro do tempo que eu podia soltar ele livremente apitando como um homem quase devagar oh Senhor que barulho eu espero que tenha sido com borbulhas pra ter a sorte de ganhar um bolo de dinheiro de algum sujeito eu vou ter de perfumar aí de manhã não esquecer eu aposto que ele nunca viu um par melhor de coxas do que estas olha que brancas que são o lugar mais suave é bem aqui nesta lingueta aqui tão macio como um pêssego devagar meu Deus
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ia ser muito melhor para o mundo ser governado pelas mulheres não se ia ver mulheres indo matar umas as outras e trucidarem-se quando é que se viu mulheres rolando em volta bêbadas como eles fazem me jogando cada pence que eles têm e perdendo nos cavalos sim porque uma mulher o que quer que ela faz ela sabe quando parar claro que eles não iam existir no mundo se não fosse a gente eles não sabem o que é que é ser mulher e mãe como é que eles podem onde é que eles todos iam estar se eles não tivessem tido uma mãe para olhar por eles o que eu nunca tive
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a culpa não é toda minha se eu sou uma levada da breca eu sei que sou um pouco eu declaro perante Deus
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eu mocinha onde eu era uma Flor da montanha sim quando eu punha a rosa em minha cabeleira como as garotas andaluzas costumavam ou devo usar uma vermelha sim e como ele me beijou contra a muralha mourisca e eu pensei tão bem  a ele como a outro e então eu pedi a ele com os meus olhos para pedir de novo sim e então ele me pediu quereria eu sim dizer sim minha flor da montanha e primeiro eu pus os meus braços em torno dele sim e eu puxei ele pra baixo pra mim para ele poder sentir meus peitos todos perfume sim o coração dele batia como louco e sim eu disse sim eu quero Sims.

Trieste-Zürich-Paris, 1914 - 1921

        LÉO SCHLAFMAN - Jornalista e crítico literário, nasceu no Rio Grande do Sul. Trabalhou nos principais jornais de Porto Alegre e do Rio de Janeiro, nas mais variadas funções, desde editor internacional a colaborador de suplementos literários, incluindo a função de editorialista no antigo Jornal do Brasil.
É autor do livro de ensaios literários A verdade e a mentira (Civilização Brasileira), levantamento sobre as principais correntes literárias modernas que traduzem a transgressão dos limites entre a realidade e a ficção. O próximo volume de ensaios, A imaginação selvagem, dará continuidade às suas pesquisas.
Traduziu para vários editores autores como Beckett, Maupassant, Horacio Quiroga, Pirandelo e García Márquez, entre outros.
Já participou das Rodas de Leitura lendo e comentando um trecho do Doutor Fausto, de Thomas Mann.